Doença transmitida pelo Aedes aegypti leva governo do estado a editar decreto que permite ações especiais, em quadro em que já há mais de 140 mil casos prováveis
Dores nas articulações e nos olhos, febre alta, coceira pelo corpo. A cada dia, multidões de pacientes entram em consultórios de todo o estado – públicos e particulares – relatando esses sintomas. Reflexo de como a epidemia de dengue se espalha pelo território mineiro. Duas semanas depois de anunciar que editaria decreto de emergência para tentar deter o avanço da virose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o governador Romeu Zema oficializou a providência, em um quadro que já registra 248 cidades com incidência alta ou muito alta da enfermidade – quadro considerado epidêmico. A situação de emergência encontra um estado já com mais de 140 mil casos prováveis de contágio – que engloba diagnósticos confirmados e suspeitos – e 14 mortes comprovadamente causadas pelo vírus, além de 57 sob investigação.
A Região Metropolitana de BH, a mais populosa do estado, é alvo de preocupação especial. A Grande BH acumula 45% do total de registros e metade das mortes do estado. Dos 34 municípios, 25, incluindo a capital, estão em epidemia – taxa de incidência da doença projetada para grupos de 100 mil habitantes considerada alta (acima de 300) ou muito alta (acima de 500) – e outros cinco apesentam índice médio (acima de 100 casos/100 mil). As três maiores cidades do aglomerado urbano – BH, Betim e Contagem – tiveram que tomar medidas urgentes para atender a população doente.
A Grande BH registrou também metade das mortes confirmadas por dengue no ano. Dos 14 óbitos em Minas, seis ocorreram em Betim e outro em Ibirité. O decreto de situação de emergência em saúde pública vale para as áreas das macrorregiões Centro, que engloba a Região Metropolitana de BH, Noroeste, Norte, Oeste, Triângulo do Norte e Triângulo do Sul, e engloba 301 municípios. Reflexo de uma epidemia que avança a cada semana: no acumulado do ano já são 196 cidades com incidência considerada muito alta. Outras 52 estão com incidência alta e também em quadro epidêmico. A situação ainda pode se agravar, pois há ainda 104 municípios com incidência média da doença. No território mineiro, que contempla 853 municípios, apenas 193 não registraram notificações da doença.
A Secretaria de Estado da Saúde criou uma força-tarefa para ajudar as cidades em situação mais grave. “Articulamos várias frentes, como o envio de equipes da força-tarefa estadual, formadas por até 40 agentes, para as localidades com maior incidência da doença, além da disponibilização de veículos para aplicação de inseticidas a Ultra Baixo Volume (UBV) e mobiliário para montagem dos postos de hidratação, poltronas para hidratação, longarina (grupo de cadeiras para espera) e cadeiras para escritório, para funcionamento durante 24 horas”, destacou a diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), Janaina Fonseca Almeida. Os municípios de Betim, Unaí (Região Noroeste), e Iguatama (Centro-Oeste de Minas) já solicitaram itens para montar unidades de hidratação.
Dos 301 municípios contemplados pelo decreto de emergência, 46,8% apresentam incidência alta ou muito alta de casos prováveis. O decreto é justificado pelo aumento considerável de internações para tratamento da doença em comparação com o ano passado, e também pela necessidade de preparar e instrumentalizar a rede de serviços de saúde para aumentar a vigilância e assistência aos pacientes.
Com o decreto, será possível mobilizar recursos de forma mais ágil para enfrentamento do Aedes aegypti e estruturação de serviços de atendimento às pessoas infectadas pelo vírus causador da doença. O texto do decreto pontua que a epidemia, no contexto de restrição financeira do estado, pode gerar um colapso na saúde pública em razão do aumento da demanda sobre as unidades. De acordo com a publicação assinada pelo governador, a situação de emergência vale por 120 dias e autoriza a adoção de medidas necessárias à contenção da epidemia, “em especial a aquisição pública de insumos e materiais e a contratação de serviços estritamente necessários ao atendimento da situação emergencial”.
DINHEIRO – O governo do estado anunciou que, por meio de resolução, a Secretaria de Estado da Saúde destinou R$ 4,18 milhões para as ações de combate à dengue, contemplando, no primeiro momento, 93 prefeituras. Os recursos são aplicados em ações como reforço de despesas com pessoal (entre elas contratação de agentes de controle de endemias e capacitações para profissionais na assistência hospitalar) e custeio e manutenção de atividades, como confecção e reprodução de material gráfico informativo, aquisição de material de apoio para ações de mobilização e mutirões de limpeza de áreas prioritárias.
Os municípios recebem valores para enfrentar o avanço da doença de acordo com a população. Até 25 mil habitantes, o repasse é de R$ 20 mil; de 25.001 a 70 mil habitantes, R$ 40 mil; de 70.001 a 100 mil habitantes, R$ 70 mil; de 100.001 a 400 mil habitantes, R$ 200 mil; e acima de 400 mil habitantes, R$ 400 mil.
VÍRUS – Há quatro tipos de vírus da dengue. O que predomina neste ano é o Denv 2, que há anos não circulava por Minas Gerais. Por causa disso, muitas pessoas estão suscetíveis à doença, pois não produziram anticorpos contra ele. “Esse sorotipo é mais agressivo, passível de quadros com mais complicações e óbitos”, alertou a diretora de Vigilância Epidemiológica, Janaina Fonseca Almeida.
O RISCO NA GRANDE BH – Confira as taxas de incidência na região metropolitana (nº de casos de cada município projetado para uma população de 100 mil habitantes)
INCIDÊNCIA MUITO ALTA
Mário Campos | 5.418,56 |
Sarzedo |
4.484,08 |
Juatuba |
3.979,76 |
Betim |
3.550,60 |
Igarapé |
3.259,48 |
São Joaquim de Bicas |
2.307,27 |
Florestal |
1.909,02 |
Sabará |
1.835,76 |
Lagoa Santa |
1.860,82 |
Contagem |
1.560,53 |
Mateus Leme |
1.396,19 |
Ibirité |
1.337,32 |
Jaboticatubas |
1.097,79 |
Esmeraldas |
988,6 |
Ribeirão das Neves |
831 |
Belo Horizonte |
817,8 |
São José da Lapa |
726,96 |
Rio Manso |
726,27 |
Matozinhos |
685,83 |
Capim Branco |
557,91 |
Nova União |
542,15 |
INCIDÊNCIA ALTA
Caeté | 392,1 |
Rio Acima | 382,24 |
Pedro Leopoldo | 322,94 |
Vespasiano | 311,86 |
MÉDIA INCIDÊNCIA
Confins | 225,33 |
Nova Lima | 187,01 |
Taquaraçu de Minas | 147,97 |
Brumadinho | 141,7 |
Santa Luzia | 112,77 |
* Taxa acima de 300 casos prováveis por 100 mil habitantes é considerada epidêmica
140.754 – É o total de casos prováveis de dengue em Minas, segundo o último balanço
63.572 – É o total de casos prováveis de dengue nas cidades da Grande BH
45,16% – É o percentual de casos da Região Metropolitana de BH em relação ao total do estado
50% – Das mortes confirmadas no estado estão na Grande BH (sete das 14)
Fonte: Jornal Estado de Minas – Portal UAI