Em fase de testes para verificação de eficácia, equipamento é de baixo custo e pode ser montado em casa.

Inativar o coronavírus por meio de um sistema de baixo custo montado pela própria pessoa em sua casa parece uma realidade distante. No entanto, é exatamente esse o objetivo de um grupo de pesquisadores da UFMG, que, com participação de colaboradores externos, está desenvolvendo o protótipo de um equipamento para neutralizar os microrganismos dispersos em forma de aerossol. O aparelho foi idealizado para possibilitar a desinfecção do ar em pequenos ambientes, como quartos de hospitais ou residências. Os primeiros testes já foram feitos, e os resultados devem sair ainda na primeira quinzena deste mês.

Alexandre Leão, Gregory Kitten e Thalita Arantes com o protótipo: tecnologia aberta

Equipamentos similares estão disponíveis em outros países, mas o custo – acima de R$ 1 mil – é proibitivo para muitas pessoas. A versão desenvolvida pela UFMG tem valor estimado inferior a R$ 400. Além disso, a proposta de abrir o acesso à configuração do produto é outro diferencial da tecnologia brasileira. As pessoas comprariam as peças, e elas mesmas, ou um marceneiro contratado, poderiam fazer a montagem sem grandes dificuldades. Vale ressaltar que o preço estimado de construção já inclui a mão de obra da marcenaria, ou seja, o valor final poderá ser ainda mais baixo.

“Desenvolver um equipamento eficiente e de baixo custo, adequado não só para hospitais, era o nosso objetivo. Pretendemos chegar às residências, especialmente às pessoas do grupo de risco”, afirma um dos pesquisadores envolvidos na empreitada, o professor Alexandre Leão, do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas Artes (EBA). “Foi esse espírito que também marcou a construção do protótipo, quase todo elaborado com peças doadas e com participação voluntária”, acrescenta.

FUNCIONAMENTO
O protótipo é feito de MDF cru – material derivado da madeira de média densidade –, com papel alumínio de cozinha e um ventilador normalmente utilizado para computadores, todos materiais baratos e de fácil acesso. A peça mais cara é uma lâmpada UV-C.

O equipamento tem estrutura tubular, com cerca de 90 centímetros de comprimento, que capta ar em volta por uma extremidade. Esse ar passa por dentro do aparelho, onde está localizada a lâmpada UV-C, e sai na extremidade superior. Quando recebe a luz ultravioleta, o vírus é inativado, tornando-se  incapaz de contaminar. Se houver uma coleta do ar, o exame vai detectar a presença do genoma viral, o que indica que o vírus ainda está no ambiente. Mas ele não terá mais potencial para transmitir a doença.

O protótipo foi idealizado para permanecer ligado 24 horas por dia. Por isso, houve a preocupação de garantir que o ventilador utilizado fosse de baixo ruído, evitando grandes incômodos no uso cotidiano. Sua capacidade de filtragem é de 55 metros cúbicos de ar por hora, o que é considerado suficiente para um quarto residencial de tamanho médio. Para verificar se a área interna dos ambientes seria coberta pelo aparelho, basta fazer o cálculo considerando a estrutura total de cada cômodo.

O pesquisador ressalta que a aplicação do equipamento pode ir além da neutralização do Sars-CoV-2. “Pesquisadores do ICB avaliam que outros agentes podem ser neutralizados pela tecnologia”, afirma ele, citando os patógenos do sarampo e da tuberculose.

TESTES
O processo está em fase experimental de validação da eficiência do equipamento para inativação de vírus. Para isso, o protótipo tem sido testado em vírus mais resistentes que o Sars-CoV-2. Os primeiros resultados com essa variante viral, comum em ambientes, porém inofensiva aos seres humanos, deverão ficar prontos na primeira quinzena de junho.

Também serão realizados experimentos concentrados na eficácia da lâmpada UV-C. Os pesquisadores obtiveram amostras do Sars-CoV-2, o que possibilita um teste real do protótipo.

FOCO MULTIDISCIPLINAR

A equipe de pesquisadores iniciou o trabalho há cerca de dois meses. À época, a Comissão Internacional de Iluminantes liberou o acesso para seus membros de um documento que aborda o uso da luz UV-C na neutralização de vírus. Alexandre Leão estudou os dados e constatou o potencial da tecnologia. Ele então reuniu profissionais de várias áreas com amplo conhecimento científico: Jônatas Abrahão (virologia /ICB), Gregory Kitten (biomateriais/ICB), Rudolf Huebner (engenharia mecânica/Escola de Engenharia), Thalita Arantes (biomedicina/Centro de Microscopia), Wagner Rodrigues (Física/ICEx) e Willi de Barros (conservação preventiva/EBA). A equipe é completada por Euler Santos, especialista em negócios da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Estêvão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, e Luciana Mafra, médica do Hospital Júlia Kubitschek.

MONITORAMENTO DO AR

Paralelamente ao desenvolvimento do protótipo, a UFMG trabalha integrada com uma equipe do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), órgão vinculado à Comissão de Energia Nuclear (CNEN) e ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTIC), para realizar o monitoramento do vírus em aerossóis atmosféricos em Belo Horizonte. A Universidade é responsável pela análise semanal das amostras de partículas contidas no ar coletadas pelo CDTN.

A pesquisa, que teve início na região Centro-sul da capital mineira, onde há maior incidência da doença, e no interior e entorno de hospitais, locais de maior chance de contaminação, auxiliará na compreensão da rota de contaminação do coronavírus pelo ar, o que inclui sua geração, a distância de propagação, as quantidades do vírus e meios de evitar o contágio.

Fonte: Portal UFMG. Texto: Luíza França